Na coluna “Na ponta da agulha”, Jorge LZ comenta o quinto álbum do artista
Publicado em 19/09/2023
Atualizado às 18:46 de 21/09/2023
Destaque de sua geração, o mineiro César Lacerda lançou recentemente Década (2023), seu quinto álbum solo (sexto, considerando o álbum lançado em parceria com Romulo Fróes), que apresenta um balanço de seus dez anos de carreira. Cantor, compositor e produtor de talento, o artista já tinha em sua discografia Porquê da voz (2013), Paralelos e infinitos (2015), Meu nome é qualquer um (2016), ao lado de Romulo Fróes, Tudo tudo tudo tudo (2017) e Nações, homens ou leões (2021).
Suas composições foram interpretadas por nomes como Gal Costa, Lenine, Maria Bethânia, Maria Gadú e Zezé Motta. Ressaltam-se também as parcerias com compositores como Chico César, Jorge Mautner e Ronaldo Bastos e as produções musicais de álbuns como Espiral (2019), de Ceumar, e Tenho saudade mas já passou (2019), de Luiza Brina.
A canção é uma das expressões artísticas que melhor definem o Brasil, tendo em vista sua força de comunicação e a capilaridade com que avança pela mente e coração do público. E é justamente a canção a matéria dominada por César, que condensa nela suas influências diversas, da exuberância das harmonias mineiras ao indie e pop, com suas variadas vertentes (sem que, em nenhum momento, se perca de vista sua assinatura, ou seja, sua personalidade).
Em Década, César fez um inventário, passeando por seus álbuns anteriores, com algumas canções que haviam sido lançadas por outras pessoas, a exemplo de “Minha mãe”, parceria com Jorge Mautner e gravada por Gal Costa e Maria Bethânia, no álbum A pele do futuro (2018), de Gal, e “Espiral”, parceria com Ceumar e que deu título ao álbum gravado por ela. No disco novo, há ainda as inéditas “Faz o teu” e “O amor fincou raízes por aqui”.
O cuidado com a palavra e como soa, característica marcante em sua obra, aparece de forma explícita por conta do formato escolhido para o álbum em questão: apenas com a voz de César e seu violão. Dessa maneira, é possível ter outra perspectiva de suas canções e, com elas quase “despidas”, fica evidente a riqueza do seu trabalho de construção.
Com suas antenas sempre ligadas, César, que nasceu entre as montanhas mineiras de Diamantina, morou um tempo em contato com o mar do Rio de Janeiro e, atualmente, vive no concreto da capital paulistana, absorveu esses ambientes que, processados de modo orgânico, foram fundamentais para o resultado de suas composições, seja nos caminhos musicais, seja nos temas abordados. O amor, o desapego, a complexidade humana, a crise climática e a falência da sociedade são temas tratados com muita propriedade e dão o tom do repertório formado, pela ordem, por: “Faz o teu”, solo e inédita; “Isso também vai passar”, solo e do disco Tudo tudo tudo tudo; “Desejos de um leão”, em parceria com Uiu Lopes e de Homens ou leões; “Minha mãe”, parceria com Jorge Mautner; “O fazedor de rios”, parceria com Luiza Brina e Luiz Gabriel Lopes, e que dá título ao álbum lançado por Luiz Gabriel; “Desculpa”, parceria com Nina Fernandes e lançada por ela em Amor é fuga: fuja (2021); “O amor fincou raízes por aqui”, solo e inédita; “Faz parar”, parceria com Romulo Fróes e lançada no álbum dos dois, Meu nome é qualquer um; “Touro indomável”, parceria com Francisco Vervloet e lançada em Paralelos e infinitos; “Lute contra mim”, solo e lançada por Paula Mirhan em Petróleo; “Espiral”, parceria com Ceumar; “Oriki”, parceria com Flavio Tris e lançada por ele em Sol velho lua nova; e “Porquê da voz”, solo, lançada no álbum de mesmo nome.
Lançado pela YB Music, com concepção da artista gaúcha Filipe Catto, produção de César Lacerda e Carlos “Cacá” Lima, e edição de Fernando Rischbieter e Pedro Vinci, que assinou a mixagem e também a masterização, ao lado de Cacá, Década é para ser ouvido com bastante atenção, pois, além de ser um trabalho delicado, atesta a trajetória de um artista que se destaca no cenário em que tem prevalecido o mais do mesmo. César Lacerda é alguém que tem muito a dizer e o faz da melhor maneira possível, que é por meio da sua arte.
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