Desenho de Carolina Barbosa e Juliana Nersessian integra o projeto “Arte urbana”, que convida artistas para intervir na fachada do IC
Publicado em 06/09/2023
Atualizado às 11:31 de 10/10/2023
Paisagem imaginada (2023), das artistas visuais Carolina Barbosa e Juliana Nersessian, do coletivo Lanó, é a nova pintura que preenche o banco do Itaú Cultural (IC) na Avenida Paulista, 149, em São Paulo. O trabalho faz parte do projeto Arte urbana, que convida artistas para intervir na fachada do prédio do IC.
A dupla, que iniciou a parceria profissional em 2014, revelou que pensar no desenho para o espaço foi um grande desafio, já que estão acostumadas a trabalhar criações em paredes grandes. Para a pintura do IC, Carolina e Juliana apostaram em uma temática que costumam utilizar no dia a dia, formas orgânicas abstratas, variações de texturas com inspiração em elementos da natureza. As composições remetem a uma dança, evocando movimento e despertando a sensação de leveza.
Em entrevista ao site do IC, a dupla fala da paixão pela arte, da trajetória e de inspirações.
Como surgiu a paixão pela arte?
Juliana: Desde criança sempre gostei de desenhar. Eu gostava de copiar páginas de revistas, desenhar mulheres, roupas, coisas de moda. Na adolescência, minha mãe percebeu minha vocação e me colocou num curso de desenho, e comecei a ter vontade de estudar artes visuais. Daí entrei na faculdade e, enfim, começou a ficar sério o negócio.
Carolina: Também sempre desenhei muito, meus pais me incentivaram a fazer um curso e veio essa ideia da faculdade. Coincidentemente, nós duas sempre gostamos do desenho, principalmente de formas e linhas, e a gente se reconheceu como amigas nesse sentido na faculdade. Depois veio a ideia de trabalhar juntas. A gente sabia que, mesmo com estilos diferentes, poderia fazer uma coisa legal.
Como surgiu a ideia de pintar murais?
Carolina: Dois anos depois da graduação, em 2014, fui chamada para um evento que tinha um monte de gente pintando murais. Então conheci outros artistas e descobri que isso podia ser de fato uma profissão, um estilo que mais combinava com a gente, e não só o que eu tinha como referência de grafites de rua. Daí veio essa ideia de se juntar, e a Ju gostou.
Qual é a inspiração no nome Lanó?
Juliana: A gente queria um nome curtinho, uma coisa sonora, gostosa de escutar, mas que não tivesse um significado poético, já que não somos muito poéticas. Então resolvemos pegar as sílabas dos nossos nomes e fazer um sorteio com várias combinações diferentes. E uma das opções foram “lá” e “nó” e a gente juntou desse jeito.
Falem sobre a obra criada para a fachada do IC.
Juliana: Pensamos em fazer uma coisa com bastante camada, algo que gostamos no nosso trabalho, várias camadas se sobrepondo, e isso criou uma densidade que chama atenção. O banco vai ser visto de longe, não só de perto, então tinha de ser uma coisa que funcionasse dos dois ângulos. Veio também a ideia das cores, que são fortes e com bastante contrate entre si, para que as pessoas consigam ver essas diferentes camadas de longe também.
Quais são os desafios mais comuns que enfrentam ao criar murais?
Juliana: Acho que há várias etapas, começando, por exemplo, em pensar que, quando você tem de criar algo específico, deve atender a uma expectativa de quem contrata, mas ao mesmo tempo fazer um trabalho autêntico. Na prática, há ainda o desafio da arquitetura, um mural de uma parede com pé-direito comum ou de um prédio, que demandam equipamentos adequados de suporte para pintar. Em termos de mural, esse é o grande desafio, acessar a parede. É muito diferente de você criar numa tela ou no papel, sentada confortavelmente.
O que vocês querem transmitir com suas criações?
Juliana: Não costumamos falar muito sobre o que as obras significam, direcionar a interpretação. O que a gente tem a dizer é o trabalho em si. As pessoas têm suas próprias leituras. Quando estávamos pintando o banco, passou uma senhora, que falou: “Ah, eu adorei esse pássaro!”. Eu disse: “Mas não tem pássaro”, e ela: “Mas eu estou vendo um pássaro”. Cada um vê alguma coisa na pintura, cada um tem sua interpretação, sua leitura. Isso é a coisa mais legal, principalmente pensando que é uma arte em um lugar onde passam muitas pessoas, com diferentes bagagens e referências.
Carolina: Uma das coisas que a gente mais gosta ao fazer trabalhos externos é esse efeito de impactar. Certa vez, um senhor falou: “Esse abstrato não está com nada, podia ter umas flores”; nós pensamos, “tem flores”, mas ele não viu.