O trabalho integra o projeto Arte Urbana, que convida artistas para intervir na fachada do IC
Publicado em 11/10/2024
Atualizado às 15:31 de 14/10/2024
Mariana Serri é a nova artista a intervir na fachada do Itaú Cultural (IC), com sua obra Jardim horizonte. Por meio de seu trabalho, ela convida os passantes da Avenida Paulista a refletir sobre escolhas mais sustentáveis para a cidade.
Em sua obra, a artista explicita a ausência de horizonte na cidade, reproduzindo um céu avermelhado, recorrente nos períodos de seca, de queimadas e de escassez de água e chuva. O trabalho também representa o desenho das nascentes e dos rios soterrados na região metropolitana.
Em entrevista ao site do IC, Mariana Serri fala sobre sua trajetória e suas referências.
Fale um pouco sobre a obra que você criou para o banco do IC.
Penso no banco como uma possibilidade preciosa de pausa e de recuo na Avenida Paulista, uma região que não para; e esse ritmo tem se demonstrado insustentável.
A Avenida Paulista, uma das primeiras vias asfaltadas em São Paulo, é berço de muitas nascentes: as que estão do lado dos Jardins desembocam no Rio Pinheiros, e os rios que nascem do lado da Bela Vista desembocam no Rio Tietê.
Aproveitando a oportunidade que o banco na calçada oferece como pausa, e considerando que para encontrar os rios de São Paulo é preciso olhar para cima e para baixo, pensando que a cidade tem mais de 3 mil quilômetros de rios soterrados e poluídos, pintei algumas das nascentes e um dos rios que nasce aqui perto, na Rua Ribeirão Preto, o Rio Saracura.
Trago também, com a intervenção, a imagem da cruz como representação da presença, do estar aqui e agora, e da relação entre os movimentos horizontais (dos rios e do acento do banco, de sentar e até de deitar) e verticais (dos caminhantes da avenida, do nascer e pôr do sol, das matas em pé).
A obra foi elaborada de maneira totalmente ligada à própria estrutura do banco, de modo que pensei na pintura como uma possibilidade de pausa para reflexão tanta física e direta quanto metafórica: abaixo do rio pintado no acento, fiz um reflexo que reproduz a mata de cima de forma invertida.
Como começou sua paixão pela arte e de onde vêm suas inspirações?
O trabalho com a arte é uma oportunidade de aprendizado e de autoconhecimento. Trata-se de uma pesquisa constante, uma investigação muito nutritiva; é uma elaboração interna e, claro, muito trabalho de pesquisa não só filosófica, mas conceitual e, também, de prática e reflexão sobre pintura, cor, desenho, arquitetura.
Muitas vezes, a minha relação com as referências não é tão direta. Minhas influências vêm muito do que leio, de autores como Donna Haraway, Davi Kopenawa, Elizabeth Kolbert, Antônio Bispo, Bruno Latour; e estou lendo agora um livro de Bernardo Esteves, Admirável novo mundo: uma história da ocupação humana nas Américas.
Como se dá o processo de escolha das cores que você utiliza em suas obras?
Esse é um dos meus assuntos prediletos, e uma das principais questões do meu trabalho artístico. Normalmente, enquanto pinto, uma cor chama a outra. No caso da pintura da fachada do IC, realizei vários estudos cromáticos prévios no ateliê e já levei as cores definidas para a pintura. As cores se transformam no encontro entre elas e com a luminosidade. A cada momento do dia, as cores dessa pintura se transformam.
Como você entende a importância de a arte ocupar esses espaços públicos?
Quando você fica cinco minutos observando a relação dos passantes com a pintura no banco, já é possível perceber a importância da arte nesse espaço público. É emocionante ver como as pessoas se interessam, querem saber, acham bonito, se emocionam, se veem na pintura e querem conversar sobre a obra. E, sobretudo, a presença dessa intervenção na cidade rompe com o automatismo, com a correria do dia a dia numa avenida como a Paulista. Isso é importantíssimo. Quebrar os condicionamentos, parar por um momento para se localizar novamente e estar presente. Pintar na Avenida Paulista e interagir com as pessoas foi uma oportunidade maravilhosa e inesquecível.